Justificativa

O acesso à informação por meio das tecnologias digitais nem sempre está disponível a todos os usuários, existindo uma separação entre os que conseguem acesso à informação e seus benefícios, e aqueles que não conseguem. Oferecer acesso fácil e compreensível às plataformas tecnológicas deve extrapolar o campo econômico e fomentar a formação da cidadania por meio da inclusão digital dos diferentes grupos sociais (CASTRO, 2008).

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos dados preliminares de 2010, mais de 9 milhões de brasileiros são considerados surdos profundos, subindo para quase 19 milhões se contarmos os que possuem alguma dificuldade de audição. Uma parcela significativa da população, que de alguma forma revela deficiência na audição, dos quais muitos possuem exclusivamente a Libras como forma de comunicação.

Desde 2002, por meio da publicação da Lei Nº 10.436, de 24 de abril de 2002 e de sua regulamentação pelo Decreto Lei 5.626 de 22 de dezembro de 2005, o Brasil reconhece legalmente que a forma de expressão dos surdos brasileiros é a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Com isso, iniciativas têm sido realizadas para a integração dessa parcela da população, que não utiliza a forma oral da língua portuguesa, na sociedade do conhecimento.

Currículos acadêmicos têm sido alterados para inclusão do ensino a Libras, principalmente nos de licenciatura. Da mesma forma, órgãos públicos tem de adaptado para atender usuários da Libras. Tudo amparado por essa lei, que garante o direito à comunicação pelos surdos.

Para as comunidades surdas a demanda pela maior presença de interpretação em Língua de Sinais está intimamente ligada aos esforços pelo seu reconhecimento como sua língua de direito (KURZ; MIKULASEK, 2004), visto que as Línguas de Sinais estão sub-representadas no mundo virtual, fato que constitui uma barreira de acesso para a comunidade surda (FAJARDO; VIGO; SALMERON, 2009).

Mesmo sendo utilizada por uma parcela significativa na sociedade e possuindo legalmente assegurada a sua forma de comunicação, a Libras ainda não é muito difundida, principalmente na sua forma escrita. Na internet, por exemplo, poucos portais incluem essa forma de comunicação, mesmo em universidades que ofertam cursos de licenciaturas em letras com especialização em Libras, com exceção do portal de Letras Libras da Universidade Federal de Santa Catarina, disponível em: http://www.libras.ufsc.br/.

Especificamente, no que diz respeito às áreas e níveis acadêmicos, a Libras ainda não possui o espaço devido, mesmo que legalmente assegurado. A comunicação científica, por exemplo, ainda não oferece formas significativas de publicação em Libras. Destaca-se que a Internet, com as inúmeras formas hipermidiáticas de apresentação da informação, ainda mantém certo tradicionalismo em reproduzir os formatos impressos, na publicação do conhecimento científico, ou seja, artigos científicos na internet são a reprodução do formato impresso. Não sendo plenamente aproveitadas as capacidades oferecidas pela tecnologia para a expressão cultural e inclusão social dos surdos nestes cenários.

O sistema de representação gráfica das Línguas de Sinais desenvolvida por Valerie Sutton, Escrita de Sinais (SignWriting), é capaz de representar cada um dos fonemas que compõe as línguas sinais (Configurações de Mão, Orientação da Palma, Locação, Movimento e Expressões Não Manuais). A Escrita de Sinais é usada para escrever mais de 40 línguas de sinais em todo o mundo e é um sistema completo, estável e funcional (BARRETO & BARRETO, 2015). Cabe ressaltar que o uso da Escrita de Sinais possui uma comunidade de usuários expressiva em termos de sua área acadêmica, mas que ainda está sendo popularizada em relação aos seus potenciais usuários. Assim, tornando-se uma possibilidade gráfica de apoio aos surdos no desenvolvimento de portais e páginas da internet e facilitando o acesso à informação, integrando uma parcela significativa da população.

O caráter social do projeto se alinha a outros pontos, como facilitador ao letramento informacional, entre tantos, visto que o acesso à internet tem aumentado significativamente. Da mesma forma que pelos avanços da educação, muitos surdos tem galgado níveis educacionais maiores, tais como em cursos de mestrado e doutorado.

A inclusão da Libras em sistema de editoração eletrônica de periódicos científicos atende as  comunidades surdas, que cada vez mais têm se inserido na academia; e aos estudiosos da Libras, possibilitando que revistas científicas adotem formas de apresentação diferenciadas, atendendo aos usuários das Línguas de Sinais.

A aplicação da forma escrita, apoiada por um glossário com a descrição dos termos traduzidos na forma visogestual em vídeo, permitirá aos usuários surdos maior contato e conhecimento da modalidade escrita da Língua de Sinais, consolidando-se assim a Escrita de Sinais (SignWriting) e promovendo esta forma de comunicação no contexto de sistemas de publicações acadêmicas.

Espera-se que os métodos aplicados neste projeto possam ser aplicados em outros sistemas e também internacionalmente em outras Línguas de Sinais, como a American Sign Language (ASL) ou a Langue des Signes Française (LSF), visto que o sistema de representação grafica SignWriting é aplicável em diferentes línguas.